No auge do Shimbalaiê

Temos duas notícias, uma boa e uma ruim, sobre o show de Maria Gadú no Flamboyant in Concert, do Flamboyant Shopping Center, cujos ingressos estão esgotados desde 9 de setembro. A notícia ruim é que nosso convite de entrevista foi recusado pela assessoria da cantora. A notícia boa é a justificativa da recusa. Maria Gadú, de acordo com a assessoria, está em estúdio, trabalhando na produção de um disco novo. Sem contar que ela esteve na abertura do Rock in Rio, sexta-feira, com Paralamas do Sucesso e Titãs. “Ufa, até que enfim”, pode suspirar o fã mais exaltado. Afinal, Maria Gadú não pode passar a vida ancorada no sucesso de Shimbalaiê. É preciso livrar-se, mais cedo ou mais tarde, da síndrome de Anna Júlia, de Los Hermanos, sem traumas.

Hoje, ela se apresenta no Flamboyant in Concert com Fernando Caneca (guitarra), Gastão Villeroy (baixo), Maycon Ananias (teclados), Cesinha (bateria) e Doga (percussão). A produção musical é de Rodrigo Vidal e o cenário é de Zé Carratu.

Reza a lenda que o segundo disco é determinante na carreira de qualquer artista. Uma lenda que ameaça entrar no esquecimento com a progressiva alteração de mentalidade que propõe o fim do CD e a concentração da música na internet. Enquanto a indústria se adapta a essa nova realidade, Maria Gadú, lançada por um selo supostamente alternativo, Slap, o braço de apostas da gravadora Som Livre (ligada à Rede Globo), explora o mesmo repertório desde 2009. E daí? Nada demais, já que se trata de um trabalho com evidentes pontos afirmativos. É difícil encontrar, hoje em dia, um CD que resista a mais de uma temporada no ar. O problema é que o segundo disco de Maria Gadú, logo em seguida, foi ao vivo. O que já configura um sinal de exagero.

Discos ao vivo são para bandas ou artistas com material suficientemente depurado. Lançado no fim de 2010, um ano depois do primeiro de estúdio, Multishow ao Vivo reapresenta músicas que haviam sido registradas com muita antecedência. Faltou, digamos, o distanciamento necessário. Claro que o projeto expande o talento de Maria Gadú como intérprete e reforça o bom gosto na escolha das canções alheias. Mas fica no ar uma incômoda sensação de pressa na administração de uma carreira que tem tudo para dar certo, independente da ansiedade. E, se lançar o terceiro disco menos de um ano depois do segundo e, novamente, com um registro ao vivo, não for um sintoma de ansiedade, o que será? Em tempo, mais uma vez com a marca do canal Multishow.

Otimismo
Sim, Caetano Veloso e Maria Gadú tem um atrativo e tanto. Assim como é uma maravilha para Thaís Gulin, colega de Slap, contar com a proximidade de Chico Buarque, é um capital artístico indescritível, para Maria Gadú, dar-se ao luxo de gravar com Caetano Veloso, notório incentivador de novas caras e bocas. É preciso demonstrar segurança e coragem para enfrentar comparações inevitáveis com um artista consagrado, que não teme hipotecar prestígio e, por outro lado, tirar benefícios da juventude talentosa. Basta lembrar que Caetano vinha de experiências ousadas com músicos jovens, da banda Do Amor, em discos como Cê e Zii e Zie. Para ele, acompanhar Maria Gadú foi como voltar para um território um pouco mais seguro. Ao passo que, para ela, acompanhar Caetano foi como saltar de um trampolim.

Para quem já cantou Um Tapinha Não Dói, não tem nada demais cantar Shimbalaiê. Mas, para quem gravou Baba, famosa na voz de Kelly Key, cantar Podres Poderes não deixa de ser um avanço no sentido poético. Contudo, lá estão, de novo, as primeiras faixas de Maria Gadú. A jornalista Bruna Veloso termina resenha sobre o disco, publicada na revista Rolling Stone, com o seguinte comentário: “Seria difícil um produto não funcionar com duas belas vozes, acostumadas ao estilo ‘banquinho & violão’. No entanto, a repetição cansativa do repertório de Gadú já começa a se tornar entediante.” Por isso, a notícia de que ela está em estúdio, gravando, não poderia merecer uma acolhida mais otimista. O disco que virá, de fato, será o segundo de estúdio e de inéditas de sua breve e já vitoriosa jornada. Na qual ela conquistou um público vibrante e cativo. Inclusive pela timidez.

Como provam os números. A estreia virou disco de platina. Venda superior a 100 mil cópias. Nos anos 80, este número seria irrisório. Atualmente, raríssimos vendem um milhão de cópias no mundo. Limite natural para Roberto Carlos até pouco tempo. Festejemos, pois, uma venda superior a 100 mil cópias. A indústria agradece, aliviada, e devolve a gentileza reproduzindo Shimbalaiê à exaustão. Menos mal que, no Multishow ao Vivo, Maria Gadú convidou amigos menos famosos, como Leandro Léo, Dani Black, Luiz Murá, Luís Kiari, Caio Sóh, abrindo caminhos como os atalhos que Caetano Veloso abriria para ela pouco depois. Agora ela anda sozinha.

Maria Gadú nasceu em São Paulo e começou a cantar em bares muito cedo, consta que escreveu Shimbalaiê aos 10 anos de idade, mudou-se para o Rio de Janeiro em 2008 e, convidada por Jayme Monjardim para interpretar Ne Me Quitte Pas para a minissérie Maysa, chamou atenção dos executivos da Som Livre, que a levaram para a Slap. O resto é uma história longe do fim. O capítulo de hoje avança para um final feliz.

Vai lá
Maria Gadú
Quando:
hoje
Onde: Deck Parking Sul – Piso 3, Flamboyant Shopping Center
Horário: 20 horas
Ingressos esgotados

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