O canto refinado da cigarra

Zizi é um nome sonoro. Apropriado para uma cantora popular, uma vez que imita a melodia das cigarras ou dos grilos, que cantam naturalmente por prazer ou necessidade. Possi mantém o elo com Zizi no ‘ss’ dobrado. A família tem uma relação estreita com as artes. O irmão José Possi Neto, que dirigiu espetáculos de Zizi, vive entranhado no teatro. Luiza Possi seguiu os passos da mãe e tornou-se cantora em estilo diverso. Zizi está a cara da Luiza na capa de Pedaço de Mim, de 1979.

Zizi vem de Maria Izildinha. Nada mais brasileiro que a ascendência italiana colocada no diminutivo. Além do mais, ela nasceu no Brás. O bairro paulistano foi reduto de imigrantes italianos. Izildinha virou Zizi que virou cantora que se apresenta hoje no Flamboyant in Concert com ingressos quase esgotados. Fica fácil dizer ‘virou cantora’. Um belo dia, como se não tivesse nada para fazer, Zizi virou cantora. Não foi assim. Se bem que é difícil contornar a força do destino.

Ela começou a dedilhar o piano com cinco anos. Não alcançava os pedais do instrumento, mas tinha os dedos flexíveis. A iniciação foi assimilada com brevidade, ao mesmo tempo em que ensaiava os primeiros trinados. A mudança para Salvador aconteceu na adolescência. Na época, a Universidade Federal da Bahia tinha uma das melhores escolas de Música da América Latina. Para quem imagina a ensolarada capital do estado como um lugar de festa permanente é bom avisar que ela foi estudar Composição e Regência.

A faculdade de Música foi trocada pela de Teatro em dois anos. De um modo ou de outro, ela optou pela carreira nos palcos. E se recusou o convite das musas para construir personagens sob a orientação da prosa, acatou a experiência como impulso criativo no momento de interpretar uma canção. Nada se perde, tudo se transforma. Zizi trabalhou como professora, atuou em peças e musicais, nos quais se desdobrava escrevendo as trilhas, gravou jingles publicitários e participou de especiais para a TV soteropolitana.

A vida artística deu uma guinada na capital carioca. A história diz que Roberto Menescal, diretor artístico da gravadora Philips (depois Polygram e atualmente Universal), prestou atenção naquela menina incluída no elenco de um programa piloto para TV. O ano era 1977. O primeiro LP de Zizi, Flor do Mal (olha a influência do poeta francês Charles Baudelaire aí, gente), foi lançado um ano depois. O repertório só comportava gente fina (Ivan Lins, Kledir Ramil, João Bosco, Sueli Costa, Caetano Veloso, Sérgio Sampaio, Tibério Gaspar). O sucesso viria com Pedaço de Mim, de Chico Buarque, no disco seguinte.

Então, cada um de seus lançamentos, ao ritmo de um por ano até 2001, fora as presenças em dezenas de projetos, continham sucessos radiofônicos palpáveis. Exemplos? Vê se lembra aí: Meu Amigo, Meu Herói, Nem Quero Saber, Viver, Amar, Valeu, O Circo Místico, A Paz, Corsário. Zizi não é compositora. Como intérprete, empresta voz e emoção para uma nata de compositores. O período de maior exposição ronda Asa Morena, de 1982. A faixa título explodiu em todos os cantos. Era impossível não ouvi-la no rádio. Havia ali uma postura pop que não exibia um contraste com a noção de qualidade.

Mas foi na década de 1990, na fornada acústica que abrange Sobre Todas as Coisas, Valsa Brasileira e Mais Simples, que Zizi atingiu a maturidade, devota a cantar somente o que passava de melhor diante de seus olhos, com uma produção requintada que envolvia sua voz radiante em arranjos elaborados e cristalinos. Sim, foi um ápice. Daí, ela se dedicaria a cantar em outros idiomas e parou de gravar em 2005, com Para Inglês Ver e Ouvir, cheio de ‘standards’. Fez falta a elegância de Zizi.

Dois DVDs de duetos em 2010, Cantos e Contos, não supriram sua ausência. Mas ela promete voltar neste semestre com o DVD Tudo se Transformou, base do show de hoje, que também é um samba de Paulinho da Viola. Ao lado de Jether Garotti Jr. (piano, clarineta), Keco Brandão (teclados), Rogério Delayon (violão, cordas) e Guello (percussão), a intenção é mostrar que Zizi, aos 56 anos, refinou a arte de hipnotizar uma plateia com dotes vocais encantadores.

Flamboyant in Concert
com Zizi Possi
Quando:
Terça-Feira, 27 de Agosto
Onde: Flamboyant Shopping Center (Deck Parking Sul. Piso 1. Fone: 3546-2000)
Horário: 20 horas
Ingresso: Setor 1 (esgotado), Setor 2 (R$ 700 em compras), Setor 3 (R$ 400 em compras). Troca de notas fiscais por convites

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